Alice no País das Maravilhas, e as Crianças no Mundo do Consumo.

Acabo de ler ‘Alice no País das Maravilhas’ de Lewis Carroll, e ao primeiro olhar e à leitura um tanto desatenta, poderia dizer que o livro foi uma porra-louquice da cabeça desse cara, cheio de piras e drogas de todos os tipos. No entanto, após tentar entender elementos e personagens de sua obra, um pouco de sua biografia e história, percebo o quanto sentido há nesse seu estilo tão nonsense. Claro, que por nonsense, não me refiro a sem graça, pois a história toda é muito graciosa, e como diria a própria Alice, tudo parece muito curioso.

Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, escreveu certa vez a uma criança:

“Você costuma brincar de vez em quando? Ou a ideia que você faz da vida é  ‘café da manhã, fazer lições, almoço, fazer lições e assim por diante?’… Essa seria uma forma muito organizada de viver, e seria quase tão interessante quanto ser uma máquina de costura ou um moedor de café. ”

Carroll pretendeu com seu livro e sua personagem Alice mostrar o quão necessário se faz a uma criança, brincar, criar e usurfruir de toda sua possibilidade de imaginação, enquanto criança. Característica que o fez destoar de muitos autores de sua época, em meados do séc. XIX, que estavam mais preocupados em escrever para crianças histórias com conteúdos morais, que mostrassem o que é certo e o que é errado.  Ao passo que para outros, ele foi um dos precursores a inovar na estética, influenciando nas obras de Salvador Dalí, Virgínia Woof, Oscar Wilde, entre outros.

Refletindo sobre isso, e após assistir ao documentário ‘Criança, a alma do Negócio’ (2008) de Estela Renner, percebi que aquela intenção de resgate e preservação da infância de Carroll ao escrever sobre as aventuras tão oníricas de Alice, hoje, parece ter se perdido por completo em meio a necessidade de torná-las consumidoras tão precocemente.

Esta, com certeza, é uma questão muito polêmica e atual dentro da publicidade. Mas sem pretensões de ‘puxar a sardinha dos publicitários’, a raiz disso tudo existe desde muito tempo, iniciando-se com a industrialização na Inglaterra. No entanto, sei que a publicidade teve papel fundamental na fortificação dessa problemática.

É realmente muito ‘engraçado’ quando se pensa que antes, houve quem estivesse tão preocupado e disposto a evitar que as crianças se perdessem tão cedo no mundo dos adultos, e hoje,  essa perdição não é mais feita por livros moralizantes, mas através dessa superexposição a que nossas crianças estão passando à televisão, e a toda publicidade voltada para elas.

Ambos, o livro e o documentário, me fizeram pensar muito a respeito. Portanto deixo aqui o meu mais sincero repudio a publicidade infantil, e um lembrete do perigo dela aos comunicadores que, por ventura, aqui, passarem.

‘Alice no País das Maravilhas’ é a máxima da extrapolação da imaginação, e quem dera pudéssemos deixar aflorar essa criança dentro de nós ao criarmos peças publicitárias, fazendo as mais brilhantes bissecções ideativas, quem dera nossas crianças ainda sentissem vontade de brincar, sem se preocupar com o cabelo, ou com o que está passando na televisão..

Fontes:

– Alice no País das Maravilhas – Pósfácio por Nicolau Sevcenko / Ilustrações por Luiz Zerbini (Aproveito para indicar não só a leitura de Carroll, como o trabalho de Luiz Zerbini na ilustração do livro)

-Criança, a Alma do Negócio(2008) – Dirigido por Estela Renner (Pra quem quiser assistir a esse documentário, ele está disponível em seis partes aqui: http://www.youtube.com/user/MODERACN#p/u)

-Para quem se interessar por uma análise mais profunda e um tanto freudiana do livro:

http://hasempreumlivro.blogspot.com/2007/01/alice-no-pas-das-maravilhas-de-lewis.html